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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pertencer a si mesmo, às coisas, ou aos outros?



"O homem normal está limitado, quanto aos prazeres da vida, às coisas exteriores, tais como a riqueza, a posição, a esposa, os filhos, os amigos, a sociedade etc.; nisso se funda a felicidade de sua vida. De modo que tal felicidade se desmorona quando essas coisas são perdidas ou o desiludem. Podemos caracterizar essa relação dizendo que seu centro de gravidade está fora dele. Por isso seus desejos e seus caprichos são sempre variáveis; quando seus meios permitirem, comprará prontamente coisas como casas de campo ou cavalos, dará festas ou empreenderá viagens; em geral, leverá uma vida suntuosa, tudo isso precisamente porque busca em qualquer parte uma satisfação vinda de fora. É como um homem extenuado que esperar encontrar em soluções e em remédios a saúde e o vigor cujo verdadeiro manancial é a própria força vital.


Para não passar imediatamente para o extremo oposto, tomemos agora um homem dotado de uma potência intelectual que, sem ser excessiva, excede, todavia, a medida comum e estritamente suficiente. Veremos esse homem, quando as fontes exteriores de prazer esgotarem-se ou deixarem de satisfazê-lo, cultivar de modo obcecado algum ramo das belas artes, ou então alguma ciência, tal como botânica, mineralogia, física, astronomia, história etc., e encontrar nela grande prazer e diversão. Por tal razão, podemos dizer que seu centro de gravidade está parcialmente dentro dele. Não obstante, o mero diletantismo na arte ainda está muito distante da faculdade criadora, e o mero conhecimento científico deixa de lado as relações dos fenômenos entre si, não sendo capazes de absorver completamente o homem comum; não podem ocupar todo o seu ser e, por conseguinte, entrelaçar-se tão estreitamente na trama de sua existência que se veja incapaz de nutrir interesse por todo o resto.


Isso está reservado exclusivamente à suprema eminência intelectual, comumente denominada gênio; somente ela toma como assunto, íntegra e absolutamente, a essência e a existência das coisas. Depois, segundo sua tendência individual, trabalhará para expressar suas profundas concepções a esse respeito por meio da arte, da poesia ou da filosofia. Assim, apenas para um homem desse gênero é uma necessidade irresistível a ocupação permanente consigo mesmo, com seus pensamentos e com suas obras; para ele, a solidão é bem-vinda, o ócio é o bem supremo e todo o mais é supérfluo; na verdade, quando o possui, muitas vezes é um fardo. Somente em relação a esse homem podemos afirmar que seu centro de gravidade está completamente dentro dele. Isso explica-nos ao mesmo tempo, por que esses homens de uma espécie tão rara, mesmo os de melhor caráter, não conferem aos seus amigos, à sua família, à comunidade em geral esse interesse íntimo e ilimitado de que muitos outros são capazes. Porque podem, em último caso, prescindir de tudo, contanto possuam a si próprios. Existe, pois, neles um elemento isolante, cuja ação será tanto mais enérgica na medida em que os demais homens não puderem satisfazer-lhes plenamente. Desse modo, não podem ver esses outros como seus iguais; na verdade, sentindo constantemente a dessemelhança de sua natureza em tudo e por tudo, habituam-se gradualmente a vagar entre os demais homens como se fossem seres de espécie distinta e, em suas meditações sobre os demais, a servir-se da terceira e não da primeira pessoa do plural.

As virtudes morais beneficiam principalmente os outros; as virtudes intelectuais, por outro lado, beneficiam primariamente aqueles que a possuem; portanto, a primeira faz com que sejamos largamente estimados, a segunda, ignorados."
Arthur Schopenhauer - in - O Mundo como Vontade e Representação [Aforismos para Sabedoria de Vida; p.15].






"... mais tarde, em companhia de outro brasileiro, consegui uma rápida visita a esse homem solitário e taciturno. Cabeleira desgrenhada, barba por fazer, sapatos sem meias, todo envolto em um vasto manto cinzento, com olhar longínquo de esfinge em pleno deserto - lá estava esse homem cujo corpo ainda vivia na terra, mas cuja mente habitava nas mais remotas plagas do cosmo, ou no centro invisível dos átomos.
Conversar com Einstein seria profanar a sua sagrada solidão."
Huberto Rohden - Einstein, O Enigma do Universo p.16













"Quanto a mim, minha filosofia nunca me faz ganhar nada, mas me poupa de muitas perdas"
Schopenhauer