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terça-feira, 18 de maio de 2010

Athena's Last Stand

"Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Trata-se de um caso semelhante ao do aluno que, ao aprender a escrever, traça com a pena as linhas que o professor fez com o lápis. Portanto, o trabalho de pensar nos é, em grande parte, negado quando lemos. Daí o alívio que sentimos quando passamos da ocupação com nossos próprios pensamentos à leitura. Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios. Quando estes, finalmente, se retiram, que resta? Daí se segue que aquele que lê muito e quase o dia inteiro, e que nos intervalos se entretém com passatempos triviais, perde, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria, como quem sempre anda a cavalo acaba esquecendo como se anda a pé. Este, no entanto, é o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que um trabalho manual contínuo, já que neste ainda é possível estar absorto nos próprios pensamentos."¹





Volta e meia a vida nos conduz por caminhos tortuosos, trágicos, e outras vezes cômicos.
Sempre busquei com primor o desenvolvimento das faculdades humanas na leitura e no aprendizado através do conhecimento que por milhares de anos, os melhores homens que por essa Terra passaram deixaram como legado. Não me parecia razoável buscar em poucas dezenas de anos algo de muito grande, tendo ignorado séculos e mais séculos de vivências das mais variadas, passadas por mentes diferentemente constituídas e moldadas, estilos de vida diversos, e percepções tão amplas quanto o universo.

E sempre, nos momentos mais difíceis, quando caminhava na beirada do penhasco ou no reluzente fio da navalha, lá estavam os escritos, as reflexões... Pensamentos ditos por outras bocas, frutos da vivência de outras almas, ideologias e sabedorias apossadas, mas ao mesmo tempo tão minhas. Que traziam luz e amparo sem igual para o que me ocorria. Era como se as frases do Octavarium² se repetissem sempre em algum lugar recôndito da minha mente:

'Nós nos movemos em círculos
Balançamos o tempo todo
No reluzente fio da navalha

Uma esfera perfeita
Colidindo com nosso destino
A história acaba aonde começou'


É nesses momentos que inconscientemente formas, cores, rostos, lugares e situações diversas se desenham no quadro branco que outrora guiava meus passos. Quantas vezes eram as únicas palavras que me ocorriam. A necessidade delas causava temor e certa angústia. O estigma do desenvolvimento paralizado causa espécie a mentes ávidas por progresso, desenvolvimento, superação. A que mais seria atribuído por exemplo a constituição do Super-Homem proclamado por Zaratustra? Que outra matéria prima poderia ser responsável pela conjugação de corpo, alma e espírito, se não o desejo de crescer, aprender, melhorar, e seguidamente transmitir, ensinar e discipular?

O tempo é inimigo de todo grande homem, que tem áscuo pela inércia, pela escravização do corpo e dos sentidos pelo sistema que nos transforma em marionetes e nos mantém sempre entretidos, falantes, risonhos e esperançosos (pelo quê?). O tempo sim é algo implacável, impiedoso e único. O que me faz lembrar de sua importância nas lições do lendário Musashi³, que provavelmente soariam quase que como sarcasmo para o homem médio atual.

O homem médio, que na esfera jurídica é sinônimo de qualidade, elogio e idealismo; mas para o Super-Homem é nada mais que nada, que mais um. Homem médio soa como medíocre, que não faz diferença pro bem, apenas não faz para o mal. E nesse ponto talvez até mesmo um homem mal seria de maior utilidade à civilização, pois é através deles que o bom se destaca e é reconhecido. O médio moderno é ainda pior, pois a todo momento é colocado diante de oportunidades de alçar voo mas escolhe aprisionar-se voluntariamente; é o homem que entra em contato com preciosos tesouros mas lhe dá as costas, que conhece grandes mestres e ouve grandiosas lições mas as atira ao vento, ocupando-se de trivialidades e futilidades. É desse homem que deve-se ter pavor, pois é o que tem potencial para tornar-se grande, mas não o aproveita. O que dizer dos miseráveis par excellence? O Super-Homem tem pavor do homem médio e tudo que ele representa. Ele passa longe do mundano, do mediano, do irrelevante, e o sobrevoa com categoria e sem olhar para baixo.

Que o bom Deus nos livre do deserto, do disperdício e da possibilidade de que a preciosidade da vida, o alento do bem, da sabedoria e da plenitude nos agraciem e permita-me contemplar do mais alto monte, a prosperidade do equilíbrio que vem de dentro, e transborda por não ter mais para onde ir neste ser. Que o homem, que é a corda estendida entre o animal e o Super-Homem possa encontrar seu papel em si mesmo. Que o homem que hoje vos fala, aprenda a viver, como que se extinguindo, pois o maior valor que há no homem, é ser uma ponte para algo melhor, não um fim em si mesmo.




'Amo o que prodigaliza a sua alma, o
que não quer receber agradecimentos
nem restitui, porque dá sempre e não
quer se poupar.'
assim falava Zaratustra
















¹:Arthur Schopenhauer - Sobre livros e leitura: excerpt from Parerga e Paralipomena

²: Octavarium - Razor's Edge (Rudess, Jordan; Labrie, Kevin James; Portnoy, Michael; Petrucci, John; Myung, John)

³: As 21 lições do Mestre Musashi Miyamoto:

1. Eu nunca ajo contrário à moralidade tradicional.
2. Eu não sou parcial com nada e nem com ninguém.
3. Eu nunca tento arrebatar um momento de sossego.
4. Eu penso humildemente de mim e grandemente para o público.
5. Sou inteiramente livre de ganância em toda minha vida.
6. Eu nunca lamento o que já fiz.
7. Eu nunca invejo a boa sorte dos outros, mesmo estando com má sorte.
8. Eu nunca aflijo-me por qualquer um, qualquer coisa ou qualquer tempo.
9. Eu nunca censuro ninguém, ou me censuro para alguém.
10. Eu nunca sonho em apaixonar-me por uma mulher.
11. Gostar e não gostar de algo, é um sentimento que não tenho.
12. Qualquer que seja a minha moradia, eu não tenho nenhuma objeção à ela.
Samurai13. Eu nunca desejo um alimento saboroso.
14. Eu nunca tenho objetos antigos ou curiosos em meu poder.
15. Eu nunca faço purificação ou obstinência para proteger-me do mal.
16. Eu não tenho apreço por nenhum objeto, exceto espadas e outras armas.
17. Eu nunca daria minha vida por uma causa injusta.
18. Eu nunca desejo possuir bens que tornem minha velhice confortável.
19. Eu adoro deuses e budas, mas nunca penso em depender deles.
20. Eu prefiro me matar do que desonrar meu bom nome.
21. Nunca, nem por um momento sequer, meu coração e minha alma desviaram-se do caminho da espada.

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