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sexta-feira, 5 de junho de 2009

The Flight of Icarus




Por vezes nos sentimos sozinhos. A solidão para mim não é nada além do momento em que você está em maior contato consigo mesmo, se apreciando, se relacionando com tudo o que você se tornou e viveu na vida. Cada pensamento, cada lembrança, cada reação... é tudo você.

Para alguns, a solidão é sinônimo de angústia, vazio, desespero. Pobres desses que se condicionaram a acreditar que dependem dos outros para viver. Sua vida se encontra vazia, dependendo de outros para ter algum sentido, alguma graça. A sua própria companhia é de tal modo insuportável, que seria melhor que saísse a procurar desconhecidos a ter de lidar com ela.
Uma mente rica constrói uma alma plena, com a qual o convívio solitário jamais será uma penúria. O valor da simplicidade, da apreciação das artes humanas e espirituais tornam os momentos solitários em verdadeiras viagens de onde muito se tira e se aprende; tudo depende do quanto você possui dentro de si mesmo para que possa voltar e viver e aprender com tudo que já passou. Quantas experiências permanecem adormecidas em nosso interior sem o acompanhamento de uma lição, quantas memórias sem um sentimento atrelado, quantas horas de leitura sem nenhum conhecimento adquirido. Não é de se admirar que os homens mais sábios da história eram cercados de pouquíssimas pessoas... no máximo familiares e alguns aprendizes, para que sua obra não se perca no tempo.

A corrida vida moderna praticamente nos impõe a obrigatoriedade de vivermos em interdependência com o meio social; aquele que busca a leitura e a si mesmo é malvisto, taxado de excêntrico, anti-social, esquisito. Esse fato me lembra algumas brasilidades sobre as quais já tiver oportunidade de escrever, e me lembra também o lamento do velho Geller:

"Quantas vezes as melhores qualidades encontram menos admiradores. Quantos homens tomam por bom o mau! Esse é um mal que se observa todos os dias, porém, como evitar essa peste? Duvido que possa ser erradicada desse mundo. Não há mais que um só meio na terra, porém é infinitamente difícil. Que os tolos se façam sábios. Porém, como? Isso nunca serão. Desconhecem o valor das coisas. Julgam pela vista, não pela razão. Elogiam constantemente o que é pequeno, porque nunca conheceram o que é bom."

Mas ainda assim é importante que saibamos conviver com os outros, é inevitável hoje em dia; até para os mais completos, disso depende o emprego, a constituição familiar e o círculo de amigos de todos. Para tal, é necessário aprender a se dar bem com todo tipo de pessoa que porventura venha a cruzar nosso caminho, visto que algumas relações independem de nossa escolha e preferência.

É com esse objetivo que me vejo obrigado a citar algumas lições do velho Schopenhauer:

"Quem está obrigado a viver entre os homens não deve condenar qualquer indivíduo absolutamente, nem mesmo o pior, o mais desprezível ou o mais ridículo, visto que isso é algo já determinado e dado pela natureza. Pelo contrário, tal indivíduo deve ser aceito como algo inalterável que, em virtude de um princípio metafísico inalterável, deve ser tal como é. Nos casos difíceis, devemos nos lembrar das palavras de Goethe: é necessário que haja também dessa espécie. Se adotarmos outra postura, cometemos uma injustiça e desafiamos o outro a um combate de morte. Porque ninguém pode modificar sua verdadeira individualidade, isto é, seu caráter moral, suas faculdades intelectuais, seu temperamento, sua fisionomia, etc.

(...)

"Mesmo se a conversa for sobre as coisas mais insignificantes, uma das duas naturezas essencialmente diferentes será mais ou menos incomodada por quase todas as frases proferidas pela outra; em certos casos, uma palavra chega a fazê-la encolerizar-se. Indivíduos de temperamentos similares, pelo contrário, sentem prontamente uma certa conformidade em tudo; e, no caso de uma grande semelhança, tal conformidade torna-se uma perfeita harmonia ou mesmo um uníssono. Assim se explica primeiramente por que os indivíduos muito vulgares são tão sociáveis e encontram tão facilmente excelente sociedade – o que denomina “pessoas boas e amáveis”. O contrário ocorre com os homens que não são vulgares; e serão tanto menos sociáveis quanto mais distintos forem; de tal modo que, às vezes, em seu isolamento, podem sentir uma verdadeira alegria em haver descoberto em outro indivíduo uma fibra qualquer, por insignificante que seja, da mesma natureza que a sua. Porque cada qual não pode ser para outro senão o que este outro é para ele. Como as águias, os espíritos realmente superiores fazem seus ninhos nas alturas, solitários."


"As the sun breaks above the ground
An old man stands on the hill
As the ground warms to the first rays of light
A birdsong shatters the still

His eyes are ablaze
See the madman in his gaze

Now the crowd breaks and a young boy appears
Look the old man in his eyes
As he spreads his wings and shouts at the crowd
In the name of God my father I fly

His eyes seem so glazed
As he flies on the wings of a dream
Now he knows his father betrayed
Now his wings burn to ashes to ashes his grave

Fly on your way like an eagle
Fly as high as the sun
On your wings like an eagle
Fly and touch the sun"



...and then the mighty eagle rises up to the highest sky, always lonely, but never with a tear in the eye

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